Era noite. Estava frio. Caía uma chuva intensa que a impedia de ver quem quer que passasse lá fora enquanto espreitava por uma janela meio rachada. A única forma de ligação que encontrara com o mundo exterior.
Chegara a altura de ir embora, apesar de não ter qualquer ideia de como iria prosseguir. Pela primeira vez na sua vida encontrava-se sem qualquer plano. Apenas estava segura de que tinha de abandonar aquele lugar.
Preparava-se para sair quando repara num reflexo ao seu lado. Encontrara um espelho. Ali via reflectido o que dela ainda restava: um semblante lastimável. Ali descobre que nada revela com maior fidelidade os defeitos do ser humano.
Talvez por ser demasiado rigoroso esteja constantemente suscpetível a reacções irrascíveis. Torna-se o culpado do que exibe, quando é um inocente objecto que reproduz o que vê, sem qualquer responsabilidade sobre o seu alcance.
Desta vez também não é excepção. Uma pequena estatueta que por um infeliz acaso se achava em sua frente serviu para mais um rasgo de destruição naquela morada. O espelho reduz-se em mil bocadinhos, alguns deles sujos de sange. Ela cortara-se.
Esbaforida foge, sem saber de quê. Corre até onde as suas forças permitem. E os carros...ao chegar a meio da estrada recebe apitos ensurdecedores. Não era suposto estar ali.
Corre ainda mais. E ainda mais intimidada com o que se passa ao seu redor e com a chuva que lhe cai em cima do corpo e lhe molha as manchas de sangue que se vão acumulando na sua roupa...
sexta-feira, 5 de agosto de 2005
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